Segundo a Associação Amigos da Galheta, lei que permitiu nudismo foi criada após caso de espancamento no local. Prática voltou a ser revista após alterações na lei em 2016
Antes mesmo da lei que permitiu a prática do nudismo em 1997 (costume que passou a ser novamente discutido após mudanças na legislação), a Praia da Galheta, em Florianópolis, já era ponto de encontro de adeptos do naturismo, filosofia que, além do andar nu, prega de autoconhecimento a alimentação saudável e preservação da natureza.
Miriam Carvalho, presidente da Associação Amigos da Galheta,lembra que o local isolado e com características naturais bem preservadas, considerado por ela “sagrado”, propiciava a prática.
A praia de mar aberto no Leste da Ilha de Santa Catarina, que passou a ser conhecida por naturistas no final da década de 1970, é refúgio para Miriam desde os anos 1980, quando começou a visitar o local com o marido, o professor Affonso Alles, que morreu há cerca de três anos de causas naturais.
Frequentado pelos praticantes, o espaço passou a ser cuidado por eles com ações que envolvem limpeza da praia, cuidados com a trilha (única forma de chegar até lá) e preservação da vegetação nativa.
O ex-vereador Márcio de Souza, autor da lei de 1997, que por alguns anos garantiu amparo legal à prática de naturismo no local, destaca que os adeptos da filosofia possuem a “peculiaridade importante de serem [também] militantes ambientalistas”.
Naturismo na lei📜
O movimento naturista, segundo Miriam, só foi discutido na legislação após um incidente no local, depois de alguns anos frequentando a Galheta. Ela conta que, em 1995, o marido foi espancado na praia por pessoas intolerantes à filosofia que o casal e outros frequentadores levavam. Ele precisou ser levado de helicóptero ao hospital.
A agressão, de acordo com ela, motivou a formação da associação, hoje presidida por ela, e deu forças ao grupo para lutar pela criação da lei municipal 195/97, que permitiu legalmente a prática de naturismo. O texto tornou a nudez no local opcional, mas garantiu segurança jurídica aos adeptos.
“A partir desse evento, a gente se organizou com o Marcio de Souza, vereador na época, e que, por coincidência, tinha sido aluno do Affonso [marido de Miriam] na UFSC, na química. Ele entrou com pedido [de criação da lei]”, relatou.
Ao g1 SC, o ex-vereador e ex-secretário de Turismo de Florianópolis contou que, antes mesmo daquele ocorrido, a Praia da Galheta era conhecida nacional e internacionalmente por “comportar o exercício do naturismo”. A cidade, segundo ele, já se beneficiava com o turismo proporcionado por ela.
“Mais adiante, na década de 90, houve o ataque físico ao professor Affonso Alles, que coincidiu com a instalação do nosso mandato, com a possibilidade de abrir uma discussão com orgãos de segurança pública. No caso, a Polícia Militar de Santa Catarina foi extremamente receptiva”, informou.
Temos história
Em relação ao crescimento de movimentos contrários à prática na região, inclusive com novas mudanças na legislação (veja mais abaixo), Miriam destaca que a praia ainda é conhecida nacional e internacionalmente como uma praia naturista. “Temos história”, enfatiza.
“As pessoas vêm de longe. Eu lembro de uma foto de uma alemã fotografando umas flores nas dunas. Então, isso faz parte da história da cidade. Nós sempre lutamos pela preservação”, comenta.
📜 Discussão sobre a lei
Criado pela Lei Nº 3.455 de 1990, o Parque da Galheta não previa inicialmente o naturismo na praia. A permissão legal só veio em 1997, com o texto de Nº 195.
Em uma nova atualização, a Câmara de Vereadores aprovou a Lei n. 10.100, de 2016 e mudou a categoria da Unidade de Conservação da Galheta, passando a ser denominada Monumento Natural Municipal da Galheta.
🚫 Além de estabelecer regras proibindo o churrasco, fogueiras, animais e outras ações humanas na praia, legislação revogou a autorização da prática de naturismo no local – ao menos pelo entendimento da diretoria legislativa e da prefeitura.
Anselmo Machado, advogado da associação de naturista Amigos da Galheta, afirma que a lei de 2016 não deixa claro que o naturismo na praia está proibido. O defensor cita, por exemplo, o artigo 8 da lei, que proíbe diversas atividades no local, mas não cita a prática do naturismo.
Plano de Manejo discute inclusão do naturismo na praia
Com a lei de 2016 criando o Monumento Natural Municipal da Galheta, foi necessário a elaboração de um Plano de Manejo, como prevê o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) para o espaço. Em fase final de criação, o documento trata das normas e restrições para o uso do espaço e também discute o naturismo no espaço.
Conforme a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), entidade que elabora o plano em conjunto com moradores e outros membros da sociedade civil, o documento deve incluir estudos de impacto e ações para promover a atividade das comunidades vizinhas. Não há previsão de quando o documento ficará pronto.
Assine a Carta Denúncia em favor do Naturismo na Praia da Galheta clicando aqui
Via G1, editora N
Equipe OS NATURISTAS
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