Pele, pelos e olhos nos olhos: como foi o primeiro Happy Hour Nu em Porto Alegre
Publicado por Os Naturistas

Pele, pelos e olhos nos olhos: como foi o primeiro Happy Hour Nu em Porto Alegre

Evento ocorreu no Von Teese, bar no bairro Rio Branco com performances burlescas

Vestida apenas com brinquinhos dourados e sandálias pretas, Luana* deixa a taça de vinho sobre a mesinha de centro e se candidata para responder à pergunta que não quer calar sobre naturismo. Frequentadora da Colina do Sol, comunidade voltada à prática em Taquara, ela resolveu fazer sua festa de aniversário de 25 anos no local e convidar os amigos de fora. Ouviu a tal pergunta mil vezes de mil diferentes amigos. Provavelmente, a mesma que ocorre aos leitores desta reportagem.

— Olha, se tu tiver uma ereção, não te preocupa. Disfarça com alguma coisa, sai pra te acalmar um pouco. Se acontecer, ninguém vai te julgar. Mas assim: eu poderia apostar contigo que não vai acontecer — garantiu Luana aos amigos.

E de fato. O primeiro Happy Hour Nu, realizado no Von Teese na noite de quinta-feira (16), em Porto Alegre, foi um exemplo de como tudo o que gira em torno do naturismo funciona por inversão de lógica e de expectativas. Assim, a noite em que cerca de 30 pessoas nuas bebem e confraternizam descontraidamente em um bar de performances burlescas se torna algo menos sensual do que se elas estivessem vestidas.

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São diversas explicações. Em parte, porque as pessoas policiam a si mesmas em respeito ao próximo. Sem as próprias roupas, melhor não cobiçar uma parte atraente do outro sob risco de gostar demais. Talvez você olhasse para um seio feminino ou para um bíceps masculino se eles estivessem cobertos, mas não o fará se eles estiverem nus. Da mesma forma que não cobiçam, tampouco recriminam corpos fora dos padrões de beleza. Assim, seja qual for o tamanho da barriga, a quantidade de rugas ou de pelos, todos se sentem confortáveis uns com os outros.

— Ao testemunhar como todos os corpos são normais, com suas imperfeições e marcas do tempo, você passa a se sentir mais bonito com o seu. E conversando olhando nos olhos, as pessoas acabam se tornando atraentes e interessantes por motivos que vão além do corpo — conta Talita, 37 anos.

Assim como Luana, Talita também é frequentadora da Colina do Sol. Sócios do local se mobilizaram em apoio ao evento no Von Teese. Acostumados ao naturismo em um ambiente campestre, alguns estranhavam a nudez à meia-luz, espalhada pelo balcão, cadeiras e sofás (sempre protegidos por cangas ou toalhinhas). Como a nudez não era obrigatória, os mais tímidos esperaram o bar encher para, enfim, se encaminhar para um salão nos fundos do bar. De lá voltavam apenas de sapatos, com as vestes guardadas em bolsas e mochilas. Aos poucos, corpos das mais variadas idades, tamanhos e condições físicas tomaram o espaço.

Houve quem foi ao Von Teese para experimentar como é ficar em público da mesma forma que fica em casa. Um casal de jovens fotógrafos, por exemplo, conta que só se veste quando recebe clientes em casa para retratar (adivinhe) nus artísticos.

— Não é nenhuma obsessão (risos). E não acho que o nosso relacionamento perca a graça com nudez o tempo todo. Para mim, o corpo é apenas um aspecto da pessoa. Posso achar um corpo atraente assim como posso achar sensual alguém falando francês — exemplifica Sarah.

O Happy Hour Nu não atraiu apenas pelados já convertidos. O evento no coração do Rio Branco permitiu que algumas pessoas experimentassem uma nudez sem conotação sexual ou necessidade médica pela primeira vez. Foi o caso de Márcio, rapaz negro, magro, de pele lisa. Ele batia um papo com Antônio, que é quase o seu oposto: branco, gordo e pelos cobrindo o peito e as costas.

— A gente vê vários corpos, então tu te despes também de preconceito. Eu tinha essa preocupação. Será que eu vou chegar em um ambiente desses e falar com as pessoas ou vou querer ficar olhando? Estava tremendo e não era de frio, era de nervoso mesmo (risos). Mas até aqui estou achando tudo muito natural — relata Márcio, ainda um pouco tímido.

Antônio entra na conversa:

— “Natural” é uma boa palavra, porque ela é relativa. Quando a gente se arruma para voltar da Colina, percebe como pode ser desconfortável colocar roupas de volta. Tudo depende da situação. Aqui mesmo: observa como todo mundo que estava vestido, mais cedo ou mais tarde, acabou tirando a roupa. Agora só ficou tu assim.

Um bom momento, talvez, para encerrar a reportagem.

*Os nomes dessa reportagem foram alterados para preservar as identidades

Via GaúchaZH, editora N

Equipe OS NATURISTAS